“Não temos condições de fazer uma verdadeira justiça ambiental sem um profundo engajamento pela justiça social”
O
lançamento do Projeto Veredas, que realizará ações de sustentabilidade social
nas obras da Companhia de Jesus no Piauí, ocorreu neste sábado (1º), no
Auditório do Colégio Diocesano. Houve uma palestra com o secretário para Justiça
Socioambiental da Província BRA, padre José Ivo Follmann, SJ, durante o evento.
Colaboradores de todas as unidades jesuítas do Piauí participaram.
Padre
José Ivo Follmann, SJ, é doutor em Sociologia pela Universite Catholique de
Louvain - UCL, na Bélgica, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), bacharel em Sociologia pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), licenciado em Filosofia pela Faculdade de
Filosofia Nossa Senhora Medianeira, e bacharel em Teologia (Curso Livre) pela Universidade
do Vale dos Sinos (Unisinos). Possui ainda especialização em Cooperativismo e
em História Contemporânea, ambas pela Unisinos.
O
jesuíta deu entrevista ao site do Colégio Diocesano e fala sobre a Justiça
Socioambiental na perspectiva da Companhia de Jesus. Confira abaixo:
Padre José Ivo Follmann, SJ, palestrou no evento de lançamento do Projeto Veredas
Diocesano – O que podemos entender por Justiça Socioambiental?
Padre José Ivo Follmann – Muitas vezes, quando falamos de Justiça
Socioambiental, entramos pelo viés puramente ambiental. A partir da encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, temos
outro paradigma que revoluciona tudo isso: é o paradigma da ecologia integral,
que nos dá inspiração para um novo conceito de Justiça Socioambiental, no qual
a justiça social e a justiça ambiental andam juntas, integradas. Não temos
condições de fazer uma verdadeira justiça ambiental sem um profundo engajamento
pela justiça social. Dessa forma, fomos gerando, aos poucos, o conceito de
Justiça Socioambiental.
Na Província BRA, estamos trabalhando fortemente, em todas
as frentes de apostolado, para levar adiante esse conceito de Justiça
Socioambiental. Estamos fazendo, ao mesmo tempo, um trabalho de profundo
reconhecimento da dignidade da pessoa, assumindo um compromisso com boas
políticas públicas, políticas sociais, políticas de acesso a tudo que uma
pessoa na sociedade tem direito e, em terceiro lugar, estimulando um conjunto
de políticas de cuidado com os bens da criação. São essas três dimensões que
constituem o conceito de Justiça Socioambiental: o cuidado com a natureza, o cuidado
com a sociedade e o cuidado com as pessoas.
Diocesano – Como trabalhar a Justiça Socioambiental na Educação Básica
para a formação integral das pessoas?
Padre José Ivo Follmann – Esse é um desafio muito grande. Em
primeiro lugar, de dar atenção a essas três dimensões de forma integrada. De
modo que o estudante entenda as questões trabalhadas em educação ambiental de
forma integrada com o resto. Com a
saúde, com as estruturas sociais que são mais prejudicadas quando os lixos se
acumulam. Ou mesmo considerar como se constituem as cidades, refletir sobre
onde vivem as pessoas mais prejudicadas pelo descuido com o meio ambiente: na
periferia, sem as mínimas condições de moradia, quase no meio do lixo. Pensando
nisso, fica clara relação íntima entre o descuido com a natureza, com a
sociedade e com as pessoas. O grande desafio é fazer com que, na educação, os
estudantes comecem a perceber isso de forma integrada e a ver sua
responsabilidade em contribuir para que tudo isso não se degrade. Porque se a
natureza, a sociedade e o ser humano são degradados, todos nós vamos nos
degradando juntos nesse barco.
Diocesano – Como a Rede Jesuíta de Educação pode trabalhar a Justiça Socioambiental, pensando na transversalidade do tema com outras instituições da Companhia de Jesus?
Padre José Ivo Follmann – Esse é o desafio mais bonito. Como fazer com que as nove redes que constituem a Companhia de Jesus no Brasil se alimentem e se potencializem mutuamente? Porque a tendência é que cada uma se considere autossuficiente. O trabalho conjunto e articulado é o que dá riqueza para a Companhia de Jesus. Hoje, temos o Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida [OLMA], que é pensado em rede. Mas ele só será efetivamente assim, se encontrar apoios em cada ponta de cada rede. Se nós conseguíssemos estabelecer uma sinergia comunicacional, fazendo com que isso fosse visto em todas as pontas como algo bom, que ajuda a todos, estaríamos já encaminhados para o êxito.
Diocesano – No contexto sócio-político-econômico, como a Companhia
de Jesus poderia colaborar numa reflexão e ação para mudança?
Padre José Ivo Follmann – Todos sabemos que vivemos um contexto
bastante inusitado, inédito na história brasileira. Um contexto bastante
caótico, inclusive, em termos de relativo esvaziamento das próprias esperanças.
Já não se acredita muito facilmente no que é falado por aí, porque há tanta
falcatrua, mentiras e informações desencontradas, que as pessoas acabam desacreditando.
Como ser uma voz credível no meio de tudo isso? Eu vejo como uma boa saída
mostrar essa coerência entre diferentes redes. Redes que atuam em diferentes frentes
e não competem entre si, trabalham em conjunto, de forma integrada. Acredito
que esse seria o melhor testemunho para a sociedade brasileira no momento de
hoje, se isso pudesse ser visibilizado por meio da comunicação.
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